sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O nariz que assobiava


[Segunda-feira, 06:30 am]
"Ai que susto! Esse despertador barulhento! (...) Ok, ok... mais dez minutos”.
[Vinte minutos depois...]
"Ai... dormi demais! Esse troço não funciona direito não!? Cadê o par da meia? Acho que perdi enquanto dormia... Ai, essa mania de deixar a calça embolada! Tenho que passar, mas não dá tempo! Cadê aquela outra calça que não precisa de ferro...? Ahn, nem adianta nada, olha a blusa... Droga! Porque fui inventar de morar sozinho?”
[Trinta e cinco minutos...]
"Meu café! Não posso sair sem tomar café! Ah, deixa pra lá. Como qualquer coisa no caminho... Tá, deixa eu conferir... Bolsa, chaves, crachá, carteira... Carteira? Não! Eu não posso ter esquecido a carteira! Porque sempre esqueço de alguma coisa e só lembro quando acabo de descer a escada?"
E assim, José começa o dia_ atrasado, com fome e estressado.
Entre passos atrapalhados ele caminha em direção à estação do METRÔ, compra o bilhete e aguarda ansioso para saber se perdeu a composição mais ou menos lotada.
[7:40 am]
“Já era hora, né! Que demora! (...) Ah, não... esse vagão não!”.
Sim, José perdeu a chance de ir como um cidadão normal. E agora ele, como a grande maioria das pessoas, tem de se virar para garantir um espaço na barra de ferro_ se ele conseguir chegar até lá.
_ Com licença... Perdão, com licença! “Essa porta vai se fechar e ainda não tenho idéia de como vou entrar!”
_ Meu amigo (já um pouco irritado), preciso passar! E lá se foi a pouca paciência que José tinha... Ele começou a empurrar e empurrar, mas não foi o suficiente. A porta fechou e sua bolsa ficou presa pela alça do lado de fora. E foi aquela confusão! Alguns riam, outros tentavam ajudar, mas José estava com tanta raiva que nem tinha força para reagir, esperar a porta abrir na próxima estação pareceu ser a opção menos pior.
“Pois é, agora vão ficar todos olhando pra mim com essas caras de pastel! Eu mereço mesmo”. Para José, nunca estivera tão longe uma estação da outra. Mas quando enfim chegou, nem deu tempo de piscar. Ele foi carregado pelo mar de gente que descia naquela estação.
_ Eu não vou desc... Hey, pára de empur... Ai meu pé! "Tsc, que droga"! E o que não se faz quando se está atrasado? Ele foi driblando as pessoas, sua bolsa quase indo junto, mas ele conseguiu voltar para dentro da composição (agora menos lotada).
Com a barra de ferro ainda fora de seu alcance, José se conformou em ficar no centro, onde se apoiava nas outras pessoas. Para sua maior irritação, tinha um barulho estranho bem perto do seu ouvido, tipo um assobio. Quando ele conseguiu identificar de onde vinha, percebeu que uma senhora bem atrás dele estava gripada. E aquele assobio estranho vinha do seu nariz meio entupido. Enojado, José percebeu que mais ninguém além dele ouvia aquele som de origem duvidosa. De repente ele sentiu suas pernas como galhos verdes e frágeis, seu coração acelerou e lágrimas espontâneas se manifestaram no canto de seus olhos. Sua testa franzida descrevia um conflito interno. Quando ele não se agüentou mais, soltou uma gargalhada e pronto. Não conseguiu mais parar de rir... “Será que ninguém mais está escutando isso?... Meu Deus, preciso parar de rir, pareço maluco”. Para quem o via parecia estar sentindo dor, de tanta força que ele fazia para se conter. Mas seus ombros em movimentos descontrolados o denunciavam. Por um momento ele até se esqueceu da senhora gripada, a essa altura ele ria exatamente porque não podia rir, e quanto mais ele pensava nisso, mais ele ria. Passados uns minutos ali, em situação ridícula, finalmente pôde se conter. Apertou os olhos, respirou fundo e... ‘Fuíii, fuíii’, lá estava o som do nariz desafinado. E coagido pelas forças naturais do riso, José pegou o celular do bolso e fingiu falar com qualquer pessoa para tentar disfarçar. Mas quem afinal não sabia que era mentira!
Tudo bem vai, pelo menos seu estado de humor, naquele dia, saiu da rotina.

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