sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sol de Primavera

Andando distraída pela praia à noite, como de costume, percebi um sussurro. Era a conversa entre a Lua e o Mar. Me fingi de desentendida. Falavam de um romance_ eu não esperava que a Lua fosse tão sensível._ “... Mas foi linda aquela cena, perecia até cinema! Quem diria! Eu bem que percebi o olhar dele para ela... Olhar que sorria, que falava, seduzia, induzia... Olhar infinito. Absoluto”.
_ “Pois é! No ano passado, aquele mês de dezembro fez jus à conotação da palavra amor. Mais uma prova do que acontece a quem faz caso do‘inesperado’ tão esperado”, disse o Mar.
E um riso fugiu dos meus lábios_ eles perceberam a minha presença.
Senti minhas bochechas queimarem, mas não pude me conter... “O que aconteceu em dezembro? Por favor, me digam”, perguntei ansiosa e tão envolvida.
_ “Então você não sabe?”, disse a Lua. E continuou... “O sol! Finalmente ele se declarou à Primavera”.
_ “Já entendi!”. Interrompi entusiasmada. “Por isso o ouvia tanto reclamar de que o tempo parecia não passar... Ele a espera!”.
_ “Exatamente”, completou o Mar. “E ela vem chagando, e seremos testemunhas deste romance. Ah, o sol. Ansioso sol. Que conta cada fração de segundo para o grande momento em que seus raios traduzem seu vigor de fogo em cores... E há anos ele vem tentando falar de seus sentimentos à Primavera, mas a coragem lhe faltava, pois ela parecia ter medo de se apaixonar. Eles sempre gostaram da companhia um do outro.. Sempre que estiveram juntos, seus raios exploravam o desejo em seduzir as flores a exalarem o mais doce dos perfumes; os pássaros a cantarem belas melodias, borboletas a dançarem o mais bonito dos balés... Onde o espetáculo do fim de tarde inebria, onde as cores do horizonte nunca estão em tão perfeita harmonia. Harmonia esta que enaltece a paixão pela vida. Toda a criação, afinal, coagida pelo Sol a viver a intensidade desta quimera. Uma grande amizade traduzida em um grande amor!”.
A Lua.. _ “O mais bonito desta história, é a pureza entre eles. Não houve se quer um beijo, e é o que na verdade sustenta este suspense. Tudo o que aconteceu foi um abraço. Mas este sim nos arrancou suspiros. Um abraço”.
_ “Por isso eu senti algo diferente no ar. Na última primavera, exatamente em dezembro, as notas surdas da minha alma ganharam melodia!”, eu disse como que uma descoberta. “Conheci aquele pelo qual sentia falta, mesmo antes de conhecê-lo. Não foi minha intenção me apaixonar desta forma, mas quando dei por mim... Nem tentei fugir!”.
_ “Ah, que lindo! Me fale do seu namorado”, a Lua disse em tom de insistência.
_ “Não somos namorados. Nos vimos uma única vez. Ele mora um pouco longe e vem aqui uma vez por ano, como a Primavera... Entendo o Sol! Entendo seu coração bater apressado e urgente. Entendo ele sentir que sua cor amarela é a mais linda de todas entre setembro e dezembro. Entendo porque amo como o Sol ama a Primavera. Por isso, há este espetáculo na natureza uma vez por ano, é quando estão juntos... A Primavera e o Sol”.
[Silêncio].
Os três ali, pensando... A Lua o Mar e eu. Cada qual olhando para o horizonte que lhe cabia olhar.
O tempo, avançado em hora, não quis parar para conversar conosco. Quando percebi, a Lua já estava indo embora, suspirando e suspirando.. O Mar, que não podia retirar-se, flagrou-se em suspiros também. Mas sem sucesso tentou disfarçar.
Uma luz ofuscou meus olhos pesados de sono. Era ele... O Sol. Nascendo mais uma vez... Pronto para mais um dia de espera.

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